Gestão financeira em empresas familiares: desafios e soluções
Em uma empresa familiar, cada gestor usa “dois chapéus” ao mesmo tempo: o chapéu da família (pai, mãe, filho, primo) e o chapéu do profissional (diretor, gerente, sócio).
O maior desafio e a principal fonte de problemas, é saber qual chapéu usar em cada situação. A decisão de promover um funcionário deve ser tomada pelo diretor ou pelo pai? A retirada de dinheiro do caixa é um adiantamento de lucro para o sócio ou uma ajuda para o filho?
Quando esses papéis se misturam, o caos se instala. As discussões sobre salários e distribuição de lucros invadem o almoço de domingo. A contratação de um sobrinho, baseada no parentesco e não na competência, gera desmotivação na equipe.
O caixa da empresa é usado para pagar uma conta pessoal “só desta vez”, abrindo um precedente perigoso. Esses são os gatilhos para os piores conflitos financeiros e relacionais.
Os principais desafios: quando o coração atrapalha o caixa
A dinâmica emocional é o que torna a gestão financeira em empresas familiares única. Antes de buscar soluções, é preciso diagnosticar os desafios mais comuns.
1. A mistura entre o patrimônio da família e o da empresa
Este é o erro mais clássico: o “caixa único”. A conta bancária da empresa é usada como uma extensão da conta pessoal dos donos. Paga-se a escola do filho, o supermercado e a viagem de férias com o dinheiro que deveria ser reinvestido na operação. Isso torna impossível saber se a empresa é lucrativa por si só ou se ela está sendo artificialmente sustentada pelo patrimônio familiar.
2. A definição de salários e retiradas para sócios e familiares
“Meu filho trabalha mais, merece um salário maior”, “preciso de um dinheiro extra este mês”. Decisões de remuneração baseadas na necessidade ou no afeto, e não em critérios de mercado para a função exercida, geram um sentimento de injustiça, desmotivam funcionários não-familiares e criam conflitos financeiros que podem se arrastar por anos.
3. A contratação e promoção de parentes
O nepotismo é uma armadilha perigosa. Contratar um familiar sem avaliar se ele possui as competências técnicas e comportamentais para a vaga pode prejudicar a operação e a moral da equipe. A pergunta a ser feita não é “temos uma vaga para meu primo?”, mas sim “meu primo é a pessoa mais qualificada do mercado para esta vaga?”.
4. A falta de um planejamento sucessório claro
“E quando o fundador decidir se aposentar ou, eventualmente, faltar?”. A ausência de um plano claro para a transição de liderança e de propriedade é uma das maiores causas de mortalidade de empresas familiares na passagem da primeira para a segunda geração. A incerteza sobre o futuro gera insegurança em toda a equipe e pode levar a disputas devastadoras entre herdeiros.
As soluções: criando um manual de regras para a profissionalização
A profissionalização das finanças em empresas familiares se baseia em criar regras claras eacordadas por todos.
Solução 1: separação total das contas
O primeiro passo é inegociável. Crie contas bancárias e cartões de crédito totalmente separados para a Pessoa Jurídica e para cada Pessoa Física. Defina um pró-labore (um “salário” com valor fixo) para todos os familiares que trabalham na empresa. E, por fim, estabeleça uma política clara para a Distribuição de Lucros, que deve ocorrer em datas específicas (ex: semestral ou anualmente), após o fechamento dos resultados.
Solução 2: política de remuneração baseada em mérito
Crie uma estrutura de cargos e salários para a empresa. Cada cargo, seja ele ocupado por um familiar ou não, deve ter uma faixa salarial compatível com o mercado. A remuneração variável (bônus) deve ser atrelada a metas de desempenho claras e individuais. O salário deve ser pago pela função, e não pelo sobrenome.
Solução 3: o acordo de sócios e o conselho de família
Estas são ferramentas de governança fundamentais. O Acordo de Sócios é um documento legal que formaliza todas as regras: quem pode ser sócio, como se dará a entrada e saída da sociedade, como serão tomadas as decisões, etc. Já o Conselho de Família é um fórum periódico, realizado fora da empresa, para discutir assuntos exclusivamente familiares, como a formação da próxima geração, a gestão do patrimônio e a resolução de conflitos, evitando que esses temas “contaminem” as reuniões operacionais do negócio.
Ferramentas e fontes de conhecimento para a jornada
A jornada de profissionalização da gestão financeira empresarial começa com o conhecimento. Portais como o Sebrae e a Endeavor são fontes essenciais de guias, cursos e ferramentas de diagnóstico para empresas familiares.
Tecnologia como aliada da governança
Sistemas de gestão (ERPs), como os da TOTVS, Omie, Bom Controle ou Conta Azul, são fundamentais para garantir que as regras sejam cumpridas. Eles permitem criar diferentes níveis de permissão de acesso, geram relatórios imparciais e garantem que o controle financeiro seja feito com base em dados auditáveis, e não em “achismos” ou conversas informais.
Para uma visão aprofundada sobre as tendências, desafios e melhores práticas globais das empresas familiares, as pesquisas realizadas pela Deloitte, como a “Family Business Survey“, são uma referência mundial no assunto.
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Tenha uma boa gestão financeira
Uma boa gestão financeira em empresas familiares é o que constrói as “paredes” e as “portas” que separam as decisões emocionais da família das decisões racionais do negócio. É o que permite que todos saibam qual chapéu usar em cada sala da empresa, garantindo que o afeto não prejudique a eficiência e que a busca pelo lucro não destrua as relações.
A profissionalização, ao contrário do que muitos pensam, não visa destruir ou esfriar os laços familiares. Ela os protege. Ao criar regras claras, justas e transparentes para o negócio, a família pode se concentrar em seu papel mais importante fora do horário de trabalho: ser uma família, garantindo a harmonia, o respeito e a continuidade do legado por muitas gerações.
Entendemos que mediar conflitos financeiros e implementar uma governança em um ambiente familiar é um processo extremamente delicado e que exige uma visão externa e imparcial.
A Multise Finance atua como essa parceira especialista, que pode ajudar a família a criar as regras, a estruturar as finanças e a garantir um futuro próspero tanto para a empresa quanto para as próximas gerações.